O que é a “transformação digital” e como ela se aplica à segurança alimentar?

novembro 24, 2020

Uma série de artigos de blog: a transformação digital da segurança de alimentos

Parte um: o que é a “transformação digital” e como ela se aplica à segurança alimentar?

Talvez alguns de vocês que estejam lendo este artigo tenham iniciado a jornada digital em seus respectivos programas de segurança alimentar. Ou talvez você ainda esteja gerenciando fichários e pastas cheios de relatórios e planilhas atualizadas manualmente. Independentemente de onde estiver nessa jornada, espero que esta série de artigos de blog ajude a estimular novas ideias e pensamentos sobre como nosso setor e a própria comunidade de segurança de alimentos podem colher os benefícios das lições que foram aprendidas durante as respectivas jornadas de transformação digital de outros setores.

As próximas publicações abordarão esses aprendizados. Este artigo de blog destina-se simplesmente a entender como definir a transformação digital. Isso é extremamente relevante agora que vemos o progresso rumo a um futuro digital acontecendo na área de segurança alimentar. Novas iniciativas, como a “Blueprint for a New Era of Smarter Food Safety” (ou “Um modelo para uma nova era de segurança alimentar mais inteligente”, em tradução livre) da Administração Federal de Alimentos e Medicamentos (Food and Drug Administration, FDA) dos EUA, apontam para tendências de mais expectativas e mais regras, e eventualmente de decretos para um funcionamento mais digital da segurança de alimentos. Sendo assim, é crucial alcançarmos juntos um entendimento comum sobre o significado disso para nosso setor, nossa profissão e as mudanças que enfrentaremos.

Na primeira etapa desta série, vamos definir o termo “transformação digital”. Por sinal, estamos falando de um termo repleto de alarde… o que significa que ele teve origem em campanhas de marketing com orçamentos pomposos e executadas por empresas de consultoria e tecnologia que ajudam as empresas a promover a transformação digital dos negócios delas. Tentarei manter distância da euforia e focar em algumas definições mais práticas.

Qual o significado de “transformação digital” em termos leigos e comerciais?

Parafraseando o que encontramos na Wikipedia (a mente coletiva de tudo), a transformação digital é:

“…a transformação do que não é digital para ser digital’ (extremamente óbvio), e ao fazer isso… ‘viabilizar o que foi digitalizado a solucionar problemas”.

OBS.: o artigo da Wikipedia aborda vários detalhes sobre os diferentes tipos de transformações relacionados a informações digitais, setores, organizações e sociedades (veja o artigo da Wikipedia em inglês aqui: https://en.wikipedia.org/wiki/Digital_transformation).

Não sei vocês, mas essa definição não chega nem perto de me deixar satisfeito.

Considero adequado verificarmos o que um dos mais notáveis catalisadores globais da transformação digital tem a dizer. Caso ainda não conheça a Salesforce.com, tudo o que posso dizer para resumir como a empresa influenciou a digitalização das funções comerciais é o seguinte: ela transformou completamente a maneira como os profissionais de vendas, marketing e atendimento ao cliente desempenham seus papéis. Ela transformou digitalmente a gestão da relação com o cliente (popularmente conhecida como CRM, do inglês “Customer Relationship Management”). Acredito que o que a empresa tem a dizer (https://www.salesforce.com/products/platform/what-is-digital-transformation/) também agrega valor: A transformação digital atende a uma finalidade importante:

“criar novos processos de negócios, culturas e experiências de cliente (ou modificar os existentes) a fim de atender às exigências dinâmicas dos negócios e dos mercados”.

Isso começa a deixar tudo mais claro. Conforme começamos a juntar as peças do quebra-cabeças com essas duas definições da Wikipedia e da Salesforce.com, será que conseguimos pensar em algum processo de negócios existente que seja manual e poderia ser aprimorado, resultando até mesmo em uma mudança de cultura, se fosse digitalizado?

A publicação CIO Magazine fornece alguns pontos de vista semelhantes em um artigo recente (https://www.cio.com/article/3211428/what-is-digital-transformation-a-necessary-disruption.html) ao agregar essa ideia ao pacote:

“O que é a transformação digital? Uma disrupção necessária”.

Ninguém gosta de disrupções, mas se ela é necessária… o que isso significa? Muitas vezes, as mudanças e disrupções são promovidas pelos próprios clientes. Para competir, frequentemente precisamos mudar o que estamos fazendo, caso contrário, alguma outra pessoa fará isso e ficaremos para trás. Caso seus concorrentes estejam digitalizando aspectos dos negócios deles para atender a demandas dos clientes, eles vão obter alguma vantagem? Os clientes começarão a esperar mais transparência do seu programa de segurança alimentar, caso estejam obtendo isso em algum outro lugar? Portanto, a transformação digital é uma “disrupção necessária”?

Vejamos outro processo de raciocínio. A publicação Harvard Business Review propõe uma abordagem acadêmica e comercial combinada para a transformação digital (https://hbr.org/2019/03/digital-transformation-is-not-about-technology). Em uma pesquisa realizada no ano passado, eles descobriram que a transformação digital “NÃO se trata da tecnologia”. Como assim?! Exatamente… eles descobriram que muitas iniciativas de transformação digital falham, e os motivos para a falha não tinham ligação com as tecnologias que estavam sendo empregadas. Mas por qual motivo elas falharam?

Acontece que as transformações digitais bem-sucedidas estão intimamente ligadas às mudanças organizacionais que precisam acontecer. Mudança de cultura, mudança de processos, mudança de linguagem. Porém… não gostamos de mudanças. Ainda assim, sabemos que é necessário superar o desafio e mudar nossa cultura, adotando uma que aceite uma abordagem digital… isso pode significar mudar a maneira como fazemos as coisas e a terminologia que usamos juntos. Isso tem ocorrido repetidamente em funções de negócios em cada nível da organização (alguém lembra dos relatórios manuais de despesas?).

Portanto, o que isso tem a ver com a definição da transformação digital para a área de segurança de alimentos?

Ao juntarmos tudo, acredito que encontraremos efetivamente uma definição adequada para a comunidade de segurança alimentar… e após meus anos e anos ajudando as organizações nessa jornada (veja minha biografia abaixo), isto soa como algo muito verdadeiro para mim:

  • Primeiramente… a transformação digital não é algo que simplesmente acontece e está tudo pronto. Isso nunca aconteceu dessa maneira em nenhum setor, conforme veremos nos próximos capítulos desta série. Trata-se de um processo interativo e uma disrupção necessária, frequentemente impulsionados pela demanda do cliente.
  • Em segundo lugar… trata-se de uma troca. O que isso significa? Para cada processo manual que você transforma em digital, há uma troca entre as habilidades necessárias para a maneira antiga em relação à maneira nova. Isso faz parte das mudanças culturais e de processo que precisam ser identificadas (conforme descoberto na pesquisa da Harvard Business Review).

Por exemplo, se em algum momento no passado eu lançava manualmente os resultados de diagnóstico do meu programa de amostragem, que eram entregues a mim pelo laboratório (como eram entregues? Um PDF/certificado de análise parece ser o método mais comum), então inseria tudo em minha planilha para criar tabelas dinâmicas a fim de criar relatórios de gerenciamento, de modo que a liderança pudesse tomar decisões… parece familiar para você?

Agora imagine que os relatórios já sejam criados automaticamente conforme os dados laboratoriais são lançados eletronicamente em um sistema digitalizado. O que você fará com todo esse tempo que gastava nas planilhas e tabelas dinâmicas? Bem, eu esperaria que a TROCA permitisse que você usasse sua experiência e formação científica, não no gerenciamento da coleta e formatação manual de dados, mas na análise dos dados, possibilitando dar mais ênfase a novas inovações, ações corretivas, testes de investigação, análise de causa raiz e coisas semelhantes.

Porém, é possível perceber que haveria uma troca ao adotar uma nova abordagem e novos processos relacionados a como você trabalha. Seu processo, a linguagem usada e a maneira como você investe seu tempo seriam transformados. Transformados digitalmente.

OK… acredito que isso é o bastante para a primeira publicação de uma série sobre a transformação digital da segurança de alimentos. Espero ter estabelecido um entendimento sobre o significado da transformação digital e talvez, para ser mais preciso, sobre como encarar isso em nosso mundo de segurança alimentar e em relação à maneira como trabalhamos.

Fique de olho na continuação da série, onde falaremos sobre como outros setores enfrentaram as próprias transformações digitais e as lições aprendidas que podemos aplicar à nossa comunidade.

Sobre David Hatch (eu):

Já faz muito tempo me envolvo com alguma forma de transformação digital. Tive a sorte de começar minha carreira mais ou menos na mesma época em que a Internet estava deixando de ser algo exclusivo de governos e militares, e sendo disponibilizada comercialmente. Meu primeiro projeto foi focado em um desafio relacionado a mídias: a transformação do conteúdo de vídeos de basebol do Boston Red Sox e de hockey do Bruins de mídia analógica para mídia digital. Isso permitiu, de maneira inédita, que o proprietário do conteúdo pudesse acessar, pesquisar e encontrar digitalmente o vídeo específico de que precisava para atender a uma determinada oportunidade comercial. Essa experiência, que resultou na criação de uma empresa de licenciamento de conteúdo em vídeo, me levou a vários projetos e funções nos mais diversos setores, inclusive bancos, publicidade, saúde e alimentos e bebidas. Agora percebi que passei minha carreira inteira trabalhando em um só desafio: como uma empresa usa a tecnologia e seus ativos digitais, dados e análises para tomar decisões melhores e mais bem informadas que melhoram os negócios, atendem às necessidades do cliente e atingem os resultados e objetivos desejados.

Sobre a Corvium (minha empresa):

a Corvium está promovendo a transformação digital de programas de segurança alimentar ao automatizar e entregar um plataforma unificada de dados para monitoramento ambiental, testagem de produtos, fluxos de trabalho de sanitização, bem como o monitoramento e alerta de aderência e conformidade. Estamos abordando os desafios que os fornecedores de alimentos enfrentam na hora de fazer a mudança de processos em papel ou manuais em planilhas para uma função totalmente digitalizada e impulsionada por dados.


Categoria: Food Safety, Food & Beverage, Environmental Monitoring